Depósitos do Período Quartenários do Araxá-MG


Irei disponibilizar alguns trabalhos acadêmicos que realizo no curso de Biologia para conhecimento popular!

Trabalho feito no segundo semestre de 2017 para a disciplina de paleontologia.


Em Araxá, Minas Gerais, durante uma construção em 1944, foram expostos fósseis quaternários, extremamente importantes para a paleontologia, que atualmente estão sob responsabilidade do Setor de Paleontologia do Museu de Ciências da Terra que também é responsável por sua divulgação. Todos os exemplares da região estão na coleção de Mamíferos Fósseis do Pleistoceno. Os primeiros fósseis encontrados no local foram depositados em 1944 e se tratavam de pedaços ósseos e dentários de mastodontes. Essas peças foram entregues por operários que os achou acidentalmente durante a construção da fonte de água sulfurosa do Tauá Grande Hotel, quando estava prestes de ser inaugurado. A fonte foi construída bem em cima do afloramento fossilífero, que hoje, não existe mais.


Fonte Andrade Júnior, onde foram encontrados os fósseis de Araxá
Era comum na área de afloramento, rochas metamórficas com depressões, que tinham dimensões de 6m de comprimento por 4m de largura e 1,20 m de profundidade, após a sua formação, essa depressão foi preenchida por sedimentos e armazenava fósseis dentro de um caldeirão formado por ação da água fluvial. Na primeira parte do sedimento, não apresentava muita seleção e seus fósseis estavam bem preservados, sem indícios de erosão e provavelmente foram transportados por uma corrente de grande energia. Na parte intermediária, os sedimentos estavam mais selecionados, com decréscimo de atividade fluvial, com peças desgastadas e fragmentadas. Na parte superficial, os sedimentos estavam altamente selecionados e fósseis bastante desgastados. Por cima, foi cimentado com óxido de ferro, que de certa forma, protegia a ossada.
Em 1944, foi organizada uma expedição na região e tudo que foi coletado, foi colocado em uma exposição permanente no Balneário de Araxá. Llewellyn Ivor Price realizou identificação dos fósseis e reconheceu representantes de Equus sp., Xenorhinotherium bahiense, Eremotherium sp. e Stegomastodon waringi, que mais tarde foi corrigido para Notiomastodon platensis. O único grupo sem representantes é o Eremotherium sp. E a porcentagem de representantes de mastodontes segundo Price (1944) e Paula Couto (1979) passava de 90% em relação ao restante dos grupos. Os mastodontes são o grupo mais abundante nessa área e é o principal alvo de estudos.

Localização do sítio paleontológico Águas de Araxá
Foram coletados um grande número de dentes preservados e alguns que estavam isolados e desgastados indicavam perda dos mesmos durante a vida, isso indica que esses animais podem não ter morrido no local ou estavam somente de passagem, visto que, a ampla distribuição geográfica mostra um hábito migratório. Como os animais eram de grande porte e tinham o hábito pastador, isso indica que o ambiente era aberto, amplo e com bastante vegetação, durante o Pleistoceno.
Reconstituição da associação de mastodontes em Araxá
O afloramento de Águas de Araxá foi bem conhecido por sua abundância fossilífera da espécie Notiomastodon platensis. Foi sugerido por Price (1944) e Dominato et al. (2011) que esses animais foram transportados por uma grande correnteza e por isso, seus fósseis são pouco selecionados. A causa da extinção desse grupo foi bastante discutida, e o ponto principal foi de morte em massa, causada por períodos de seca, junto com escassez de comida e água. Poderia ser por um Máximo Glacial que ocorreu por volta de 60.000 a 50.000 anos, entretanto, as hipóteses mais aceitas são: caçadas em massa por humanos e a mudança climática, que são eventos únicos.
Todo o material da megafauna encontrado em Araxá, foi estudado inicialmente por Price em 1944, que por meio do presidente na época, Getúlio Vargas, tentou chamar a atenção de turistas por meio de estátuas dos táxons na cidade, mas tudo o que conseguiu foi a reconstituição dos fósseis cimentados em uma vitrine que anos depois foi desfeita pelo estado de conservação das peças. Em 1954, dois paleontólogos, George Gaylord Simpson e Carlos de Paula Couto continuaram a pesquisa, com auxílio de Price e com atenção especial para os mastodontes. Após esse trabalho, infelizmente, os fósseis de Araxá caíram no esquecimento.


Paleontólogos que estudaram os fósseis de Araxá. A) George Gaylord Simpson B) Carlos de Paula Couto e C) Llewellyn Ivor Price
O esquecimento desses fósseis é um assunto bastante crítico, visto que, sua desmemória durou muito tempo. Em 1991, uma denúncia foi publicada em um jornal pelo péssimo estado de conservação dos fósseis, visto que,  os vidros da vitrine onde se encontravam, estavam quebrados, as peças sem sua coloração original, além do mais, os fósseis estavam fragmentados e esfarelados, por causa da exposição direta à variação brusca do clima. No mesmo ano, um representante da DNPM foi verificar a situação e se deparou com a cena lastimável, e solicitando as medidas que deveriam ser tomadas. Porém, nada foi resolvido. Em 1993, cientistas da área de Geociências tentaram criar um Museu de Ciências do Araxá sem fins lucrativos, para tirar as peças daquela condição. Somente no ano seguinte que começaram uma restauração e o plano de criar o Museu afundou mas pelo menos conseguiram tirar os fósseis daquela situação. Sem o Museu, os fósseis foram colocados em uma salinha fechada no fundo do Hotel e assim, foi esquecido por mais uma vez. Apenas em 2009, Dimila Mothé, realizou estudos paleoecológicos dos mastodontes de Araxá e depois de um longo tempo, os fósseis voltaram a se destacar, trazendo olhares de cientistas de todo o país.
Mothé et al. (2010) mostram em seu trabalho o que Simpson e Paula Couto (1957) relataram. Mothé analisou a dentição de mastodontes, construiu um perfil etário e com os resultados concluiu que, como não havia seleção etária, ocorreu extinção em massa, já que todas as idades estavam representadas nos fósseis. Portanto, foi sustentada a hipótese de que a megafauna da região de Araxá desapareceu por um evento catastrófico que resultou na extinção em massa. A descoberta fossilífera de mastodontes em Araxá-MG, foi um grande passo para a paleoecologia sobre a megafauna do Pleistoceno, mesmo permanecendo esquecida durante anos. Os estudos passaram por grandes cientistas, que contribuíram com bastante informações para integrar a história tanto dos mastodontes, como da humanidade.

REFERÊNCIAS
DOS SANTOS AVILLA, Leonardo et al. Extinction of a gomphothere population from southeastern Brazil: taphonomic, paleoecological and chronological remarks. Quaternary international, v. 305, p. 85-90, 2013.
DE SOUZA BARBOSA, Fernando Henrique et al. Osteological diseases in an extinct Notiomastodon (Mammalia, Proboscidea) population from the Late Pleistocene of Brazil. Quaternary International, v. 443, p. 228-232, 2017.
MOTHÉ, Dimila et al. Taxonomic revision of the Quaternary gomphotheres (Mammalia: Proboscidea: Gomphotheriidae) from the South American lowlands. Quaternary International, v. 276, p. 2-7, 2012.
DOMINATO, V.H. ; MOTHE, D. ; AVILLA, L. S. ; SILVA, R.C. . Aspectos tafonômicos e paleoecológicos de mastodontes (Stegomastodon waringi) do Quaternário de Águas de Araxá (QAA), Minas Gerais, Brasil. 2010. (Apresentação de Trabalho/Simpósio).

Google +

Jackeline Bianc

  • Image
  • Image
  • Image
  • Image
  • Image
    Blogger Comentarios

0 comentários:

Postar um comentário